CABEÇA DE BURRO ENTERRADA
 - Um fato real

Patrícia Librenz, gaúcha no sotaque, radicada em Foz do Iguaçu desde 2008, mestra em Literatura Comparada, é fã de Machado e Borges, mas ignorante de Clarice Lispector e intolerante a Paulo Coelho, assim se expressa na crônica CABEÇA DE BURRO:
“Você conhece algum lugar no qual nenhum empreendimento costuma ir pra frente? De acordo com um folclore popular, onde “tem cabeça de burro enterrada”, nada dá certo!
Vocês já devem ter visto algum caso assim: o ponto comercial é bom, fica em um bairro bacana; nas proximidades, há vários estabelecimentos que prosperaram. Quase sempre, o produto/serviço oferecido é de qualidade, o atendimento também não é ruim… mas, por algum motivo sem explicação, o lugar vive vazio, o negócio não vai pra frente e, curiosamente, tudo que abre naquele ponto acaba fracassando.
Tem lugares que fecham porque são ruins; outros, porque são mal administrados… mas, em certos casos, não há lógica – e, segundo meu falecido avô, quando acontece repetidas vezes, é porque tem cabeça de burro enterrada naquele terreno. Apesar de ser uma crença bastante folclórica, hoje, quando vejo vários estabelecimentos comerciais abrindo e fechando em determinados pontos da cidade, nos quais nada dá certo, acabo repassando essa sabedoria popular adiante.
Não raro, preciso explicar às pessoas o que essa expressão significa. Então, fui atrás de saber a sua origem. Na minha pesquisa, encontrei algumas incongruências (internet, né…). Então, fiz um esforço científico para tentar trazer ao menos a informação biológica e genética correta: de acordo com a consultoria veterinária vip que recebi, descobri que o burro (ou mula, se for fêmea) surge do cruzamento entre uma égua (família dos equinos) e um jumento (família dos asininos) – ou asno. Portanto, o burro é um animal híbrido, não sendo nem cavalo nem jumento.
Como são indivíduos resultantes do cruzamento entre espécies com número de cromossomos diferentes, burros e mulas tendem a nascer estéreis, por isso que, entre os criadores de cavalos, esse era um animal indesejado, por não ter valor comercial. Então, para não desgastar a égua, que passaria meses amamentando um filhote “sem valor”, nem gastar com a alimentação do burrinho, costumava-se sacrificar esses filhotes (que dó, gente!) e enterrá-los longe das residências. Como a gestação da égua pode chegar a um ano e só é possível descobrir a espécie do animal no momento do nascimento, isso era recebido como um sinal de azar pelos criadores. Assim, acreditava-se que esses cemitérios transformavam-se em terrenos “amaldiçoados”, que atraíam maus presságios.
Por esse motivo, quando um local parece trazer azar para os negócios, pois nada que começa nele vai pra frente (não “gera frutos”, assim como os filhos da égua com o jumento), diz-se que ali “tem cabeça de burro enterrada”. Eu conheço vários pontos comerciais assim em Foz do Iguaçu – até fiquei triste quando vi que abriu uma franquia legal em um lugar desses. Se isso é lenda urbana, folclore popular ou se realmente tem algum cabimento, só tem um jeito de saber: enterrando um burro em um terreno e observar.
Se eu pudesse, faria isso onde funciona o lava-a-jato vizinho à minha residência. Ali, a barulheira, que não é pouca, começa logo cedo, inclusive aos sábados – e alguns feriados. Ouvir música ruim, conversa fiada, barulho de aspirador de pó e lavadora de pressão, das 8h às 18h, é bastante exaustivo e estressante, especialmente nos meus dias de descanso. Se eu conseguisse o burro para enterrar e, depois disso, o movimento do lugar despencasse (até o empreendimento fechar), teria a prova científica de que preciso. Não que eu queira amaldiçoar o estabelecimento ou agourar o negócio alheio, é só uma curiosidade científica mesmo.
E você, conhece algum lugar com cabeça de burro enterrada? Caso nunca tenha ouvido essa expressão (ou a conhecia, mas não sabia da sua origem), compartilhe esta pérola da cultura inútil com seus amigos!”.
Partido do texto é que começo aqui um relato do fato de uma cabeça de burro enterrada no terreno localizado próximo onde nasci e me criei.
Icoaraci mais de meio século atrás era comum ouvir dizerem: “Icoaraci todos se conhecem”.
Na época Icoaraci praticamente se resumia na frente, como era conhecida a área próximo ao trapiche, mercado municipal, cinema, final da linha do ônibus, estação do trem. Todos convergiam para lá, não tinha feira da Oito de Maio, COHAB entre outros lugares e afastados da frente.  A diversão era praia do Cruzeiro, Praça Matriz entre outros, sempre “na frente”. Por consequente, era mais fácil as pessoas se conhecerem.
Imagine os vizinhos, a relação entre eles, numa época que não tinha televisão e aconteciam os encontros das famílias na frente das casas pela parte da noite, todos se conheciam, as suas diferenças, os gostos, o que um fazia o outro ficava sabendo, acontecendo até o toma lá da cá, ou seja, se um vizinho estava precisando de um punhado de açúcar pedia ao outro e vice-versa.
A minha raiz foi na rua Padre Júlio Maria, 364, do lado direito no sentido Travessa Pimenta Bueno/Travessa Cristovam Colombo, hoje Lopo de Castro. Os vizinhos do lado esquerdo eram a família do seu Mário e da Dona Carmélia, logo em seguida o seu João e a dona Isabel, mais adiante a família da Dona Maria até chegar a família do seu Guilherme e da Dona Ester na esquina da Travessa Pimenta Bueno. Pelo lado direito tinha a casa do Dr. Arcúcio Cavalero de Macêdo, pai do meu saudoso professor de direito tributário, José Roberto Cavalero de Macêdo, vindo a seguir a família do Senhor Raimundo conhecido como Coelho e a dona Lourdes, seguindo a família do Dr. Gemaque, continuando entre outras até a  Travessa Lopo do Castro as famílias dos Rodrigues, sendo o chefe conhecido como “Vavá Piolho” e a família da famosa “Augusta Bucheira”,
A Dona Lourdes e o seu Coelho moravam no terreno no meio do quarteirão, a casa ficava quase ao fim do terreno numa ribanceira, ou seja no alto. O imóvel era murado na frente e no lado esquerdo, quem passava pela frente não avistava a casa, mas, do outro lado da rua, nos imóveis em frente, dava para avistar a casa, pois ainda é uma parte alta, com uma boa vista para os imóveis em frente,  Os terrenos em Icoaraci  na área que vai da travessa do Cruzeiro até a travessa Soledade e da Rua Siqueira Mendes até a Dois de Dezembro tinham duas dimensões, uns que mediam 11 metros de frente por 66 metros de fundos e outros com a dimensão de 11 metros de frente por 99 metros de fundos, estes localizados no meio do quarteirão e sobre  um deles morava o casal, que fazia fundos com o outro na mesma direção e que fazia frente para a rua Manoel Barata. Dona Lourdes e o Seu Coelho, este tinha um quiosque na estação de trem que vendia café com o nome “Café Coelho”, eram caseiros do imóvel e a casa principal ficava e ainda está lá na rua Manoel Barata, ao lado do Banco Itaú. O imóvel pertencia a família do português ABILIO CRUZ, que residia em Belém e tinha o imóvel em Icoaraci para passar férias, feriados e finais de semana.
O casal criava um burro que ficava sempre amarrado na frente do terreno na rua Padre Júlio Maria que era farto de capim ou amarrado dentro do imóvel, que também tinha capim para alimento ao quadrupede. Um dia o animal veio a óbito, eu era menino, no máximo 10(dez) anos, acompanhei com os olhos de longe o cortejo fúnebre, avistando do outro lado da rua o Seu “Coelho” enterrar o animal, depositando ali a cabeça do burro.
Poucos anos depois o casal foi residir na travessa Itaboraí, em frente ao colégio “Avertano Rocha”. A  casa em que o casal morava localizada na Rua Padre Júlio Maria, depois que saíram, aproximadamente 55(cinquenta e cinco) anos atrás, ninguém foi morar, destruída e no terreno não tinha nenhuma plantação ou árvore e nada ali foi plantado, nem fincada, enterrada, enfiada, apoiada, encostada, escorada, cravada nenhuma madeira ou assentado tijolo para construção de uma casa. Um muro foi construído na lateral direita e o terreno está lá intacto, com uma placa ALUGA-SE, coberta pelo mato.
O imóvel tem uma bela localização, área maravilhosa, no centro de Icoaraci, mas sem serventia, o que vem submeter a imaginação de que a cabeça do burro ali enterrada está emperrando que seja tirado bom proveito do terreno.
Uns anos atrás, antes da Dona Lourdes subir a morada eterna, parei na frente da sua casa, com ar de graça disse para ela o fato de que vi enterrarem o burro e no local nenhuma flor nasceu, nenhuma construção foi levantada.  Rimos muito junto com a sua filha Odete.
Obrigado Odete pelas informações que faltavam.

FIQUEM COM DEUS.

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