VIAGEM A XINGUARA E OS PRIMEIROS DIAS NAQUELA
CIDADE
No segundo semestre do ano de 1982 prestei
concurso para o Banco do Brasil e fui classificado, aguardando o chamado para
fazer a prova de datilografia e depois os exames admissionais. No início do ano
seguinte prestei vestibular para o curso de letras na UFPA e obtive êxito,
começando logo a estudar. Na semana santa fui com a Dora, Salmir e a Belmira
para Algodoal, retornando no domingo. Antes de tomar o ônibus para voltar para
Belém liguei para casa e o papai atendeu informando da comunicação para
comparecer na agência centro do Banco do Brasil S.A. fazer o teste de
datilografia e que assumiria em Xinguara no Sul do Estado, sem data para posse.
Chegando em Belém não voltei a UFPA, abandonei o curso de letras sem fazer uma
única prova, dando privilégio ao Banco do Brasil.
Após o teste de datilografia e os exames
admissionais fiquei aguardando a comunicação para posse que somente aconteceu
no mês de maio para apresentar antes da inauguração da agência que ocorreria no
dia 01.07.1983. Já havia marcado a data do casamento com a Dora para o dia
29.07.1983, quando ela colaria grau em Geografia pela UFPA.
Procurei informações como chegar em
Xinguara(PA) que havia sido elevado a categoria de Município no ano de 1982,
sendo que no final dos anos 70 e início dos anos 80 houve um protesto em
Xinguara(pa), matéria de primeira página do jornal “O Liberal”, assim, tomei
conhecimento pela primeira vez daquela Cidade. Decidi ir através de Araguaína(TO)
naquela época fazia parte do Estado de Goiás. Apanhando o ônibus
Transbrasiliana para Brasília(DF) no dia 23.06.1983 às 00hs, chegando em
Araguaína(TO) aproximadamente às 14hs e de imediato tomei informações sobre
condução até Xinguara(PA). O vendedor de passagem informou que para
Xinguara(PA) estava saindo um ônibus do Pontão(um lado Pará e o outro lado
Goiás), a margem do Rio Araguaia, naquele momento e outro ônibus somente no dia
seguinte no mesmo horário, mas se quisesse ir teria que apanhar o ônibus que estava
saindo de Araguaína(TO) até o Pontão naquele instante, chegando no destino
teria que dormir na localidade do outro lado da margem do rio e no dia seguinte
apareceria algum carro na primeira balsa que chegaria até Xinguara(PA).
Subi no ônibus e segui até o Pontão onde
cheguei por volta das 18hs e atravessei para a outra margem do rio. No local só
existia um pequeno comércio que vendia refeição e o dono oferecia hospedagem,
claro que tinha que pagar, caso contrário dormia no relento na rede por ele
oferecida, desde que consumisse a refeição. O dinheiro era escasso e a
alternativa foi dormir ao ar livre na rede junto com outros transeuntes que se
destinavam no rumo de Xinguara(PA). Na época a febre do ouro imperava e o povo
que tinha o destino aquela cidade a sua maioria era garimpeiro, principalmente
advindo do Estado do Maranhão. Passei a noite dormindo contando as estrelas,
sem ninguém conhecido, a rede ainda conseguiu rasgar, sem que eu tenha caído e
vi o sol nascer a margem do Rio Araguaia. Logo pela manhã veio a saudade,
distante uma voz saindo do rádio ligado na Cultura de Belém que anunciava: “hoje
24 de junho, dia de São João”. Amante da quadra junina, das festas, dos fogos,
das iguarias, distante dos meus parentes, da Dora, era tarde para voltar e
tinha que seguir em frente.
Logo na primeira travessia da balsa veio uma
camionete Ford F 1000, sem cobertura e oferecendo condução até Xinguara(PA) e o
motorista cobrava a passagem, logo subi ao lado do motorista seguindo a viagem
até Xinguara(PA) uns 120(cento e vinte) quilômetros em estrada de chão,
passando por dentro de fazendas, abrindo e fechando porteiras que era cobrado
um valor por transitar de carro pelas fazendas. Entre estas estava a famosa “Rio
Vermelho”, que veio hospedar mais tarde a Rainha Silvia(brasileira) da Suécia.
Depois de 04(quatro) horas de viagem chegamos a Xinguara(PA), procurando de
imediato o Banco do Brasil, mas o mesmo estava fechado, resolvendo encontrar
algum lugar para repouso, ficando no hotel “Rio Vermelho”, ao lado do Banco.
Xinguara(PA) conhecida antes como Entroncamento,
devendo esse nome do encontro das rodovias PA-272 que liga Xinguara a São Félix
do Xingu(PA) e PA 150 que liga a Marabá(PA) a Conceição do Araguaia(PA). Fiquei
impressionado com o trânsito de caminhões, principalmente madeireiros, em razão
das inúmeras indústrias madeireiras na região e muitas delas famosas onde
surgiram Cidades como Rio Maria(PA) onde ficava a MAGINCO, Bannach(PA) com a madeireira
do mesmo nome, assim como Pau D’arco(PA), com a madeireira do mesmo nome. A
cidade era descampada, não existindo nenhuma árvore para fazer sombra, a
Avenida Xingu, principal por lá, era bem larga e o vento quando era forte fazia
uma nuvem de poeira. A cidade sempre foi rica na pecuária, mas o grande foco
naquele momento eram os garimpos, diversos na região, fazendo da cidade um
entre sai de gente constante. Além do mais a cidade era uma fartura, ou seja, faltava água, luz, telefone, televisão, transporte.
Depois de jogar a mala no hotel, tomar banho para
tirar pelo menos a metade da poeira do corpo, fui atrás de almoçar, retornando
ao hotel e fiquei de prosa com a dona Conceição, esposa do seu Lazinho, donos
do hotel e ela entre outras conversas disse: “que correios na cidade somente
dia de quinta-feira que carta chega e que sai; que se quisesse fazer ligação e
fosse na telefônica naquele momento, iria esperar aproximadamente 3(horas) para
conseguir ligação e que de dezembro a maio ninguém entra e ninguém sai da
cidade em razão dos atoleiros”.
Confesso que lagrimei e de imediato fui até a telefônica gritando dentro de mim
o nome da Dora e dizia: “o que vim fazer aqui”.
Mais tarde fui ao banco sendo recebido pelo
gerente-adjunto, depois pelo gerente, sendo o primeiro funcionário a chegar na
agência além do gerente e do adjunto, tomando posse naquele dia. Logo o gerente
se dispôs a oferecer a casa dele para abrigo e levou a um restaurante com preço
mais em conta para pagar no final do mês.
Os novos colegas foram chegando, passando a
residir na casa do gerente, que morava sozinho, até formar um grupo para alugar
uma casa e formar uma república. A agência foi inaugurada no dia 01.07.1983 a
todo vapor, com um pequeno quadro de funcionários que foi crescendo no passar
do tempo.
No primeiro dia da abertura esteve na agência
José Paulo, que o conhecia de Icoaraci, sobrinho do famoso ”Banana”, que tinha um
pequeno campinho de jogar bola na travessa Souza Franco. Ele trabalhava no IBDF
naquela cidade, tornando amigo e fazendo amizade com a Carmem, sua esposa, o
Abelardo e seu Aguinaldo, estes funcionários do IBDF, passando a ser rotineiro
a minha ida até o posto do órgão.
A noite na cidade era um breu, não tinha energia e ficava jogando WAR com o gerente e os novos colegas, a luz de vela noite a dentro, Teria que retornar para casar no dia 29.07
daquele ano, tendo que deixar a cidade dias antes, marcada a data para o dia
26.07.1983, depois do dia de serviço. O ônibus saia as 18 horas para Marabá(PA),
procurei chegar a tempo na rodoviária quando fui informado que naquele dia não
teria ônibus e se tivesse só no dia seguinte, entretanto, obtive informação de
que a qualquer momento poderia chegar uma garimpeira, que era uma camionete com
ou sem capota fazendo transporte de passageiros até Marabá(PA). Não demorou
muito para aparecer a condução e sem capota, por consequente ingerir poeira nos
120(cento e vinte) quilômetros até Eldorado do Carajás(PA), com certeza até o
dia do casamento estava com o corpo tomado pela poeira. Depois de
aproximadamente 50(cinquenta) quilômetros o motor do carro começou a falhar,
sempre parando e o pior veio a seguir quando o motorista errou a pinguela(Ponte
rústica feita com paus ou improvisada com troncos, sem proteção lateral),deixando
cair a roda dianteira do lado do passageiro fora da ponte, o problema foi resolvido
com a chegada de mais dois outros carros e os passageiros ajudaram a levantar a
garimpeira colocando na pinguela.
Chegando a Marabá(PA) logo depois tomei ônibus até
Belém(PA) para casar e nunca mais voltar a Xinguara(PA), procurar retornar a
UFPA concluir o curso de Letras, contudo, fui levado a acreditar que deveria
retornar ao Banco o que de fato aconteceu. Retornei a Xinguara(PA) ficando
ainda até julho/84, quando voltei a Belém(PA), depois Marabá(PA), assumindo o
cargo de advogado do Banco. Guardo um imenso carinho por Xinguara(PA), meu
primeiro passo longe de casa e sozinho, talvez não tenha aprendido a viver, mas
serviu muito para enfrentar o novo mundo que viria depois. Guardo muitas
recordações do lugar, dos amigos que conheci e dos momentos que vivi.
FIQUEM COM DEUS
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